Conhecer-se
Por muito tempo insistiu que ainda havia amor, mesmo sabendo que ele já tinha morrido faz tempo... Sentiu medo de ficar só, medo de ter que encarar o próprio reflexo no espelho, medo de ter que definir a própria identidade, e de todas as questões que viriam por ocasião da separação. Um dia o namoro enfim acabou, e embora tenha sido feito de tudo pra levantar aquele amor-defunto que insistia em fingir-se vivo, não teve jeito, chegou o momento de encarar e sentir a inevitável dor da solidão.
E deve doer bastante, tendo em vista a quantidade de pessoas que fogem desse encontro como o diabo foge da cruz. Há tantos que vivem uma relação de fachada, sem respeito, sem amor, sem perspectiva, por simples acomodação, por praticidade, por medo, quantos? Muitos se mantêm em relacionamentos acabados, esgotados, pelo simples pavor de ter que encarar a solidão, de ter que repensar os pontos de vista, o modo de vida, as próprias condutas.
Acabar uma relação e ficar sozinho é sempre tempo de pensar e, sobretudo se REinventar. No fim fica só você, sem o outro, sem aquela extensão, aquele apêndice que te completava. E sem essa companhia você deixa de ser um casal pra ser apenas você mesmo, com idéias próprias e muitas decisões a tomar sozinho, sem ter que ouvir o outro, mas tendo a obrigação de arcar com as conseqüências das próprias escolhas. Isso pode ser bastante difícil.
Quando a relação acaba imergimos num mundo de questionamentos, “Quem eu realmente sou, sem as limitações que o outro – de certa forma – me impunha?”, “Do que realmente eu gosto?”, “O que eu poderia fazer e que antes abria mão pelo outro?”. São muitas questões a serem pensadas, tantas que boa parte das pessoas prefere emendar uma relação na outra sem que aja tempo pra esse vazio existencial. E nessa situação onde fica o EU? Como pode amadurecer aquele que não tenta se conhecer plenamente?
Somos todos humanos, cheios de medo e desejo, sofremos por amor, e pela falta dele, sofremos pra amadurecer, e sofremos por resistir à maturidade. Não devemos nos privar do que é humano, e às vezes precisamos sofrer pra poder compreender o sentido da existência, a dor pode nos ensinar a amar verdadeiramente, do jeito “certo”. Além do mais, dilemas existenciais não podem ser divididos, tem que ser ‘sofridos’ secretamente, individualmente, afinal cada existência é perfeita e única. Então porque tanta resistência em se conhecer?
[Mente Hiperativa]